Em diversas oportunidades nesta coluna, falamos
sobre planetas, estrelas e galáxias. Em outros momentos, também
abordamos temas como átomos e moléculas, que, ao interagirem,
dão forma a tudo que percebemos ao nosso redor. Também discutimos como o homem
pode manipular tais estruturas fundamentais e produzir
novos materiais que modificaram (e modificam) as nossas vidas.
Em um primeiro momento, podemos pensar que a
vastidão do cosmos e complexidade dos átomos não estão conectadas. Afinal, as
galáxias localizam-se a milhões ou até bilhões de anos-luz de distância (um
ano-luz representa a distância que um raio de luz percorre durante um ano e
equivale a aproximadamente 10 trilhões de quilômetros) e são necessários
gigantescos telescópios para detectar a fraca luz que nos chega a partir desses
objetos.
Por outro lado, as estruturas fundamentais da
matéria são tão pequenas, da ordem de décimos de nanômetro (um nanômetro é um
bilionésimo do metro), que somente são acessíveis com poderosos microscópios
eletrônicos, que, mesmo assim, nos mostram apenas uma pequena parte de toda a
sua complexidade.
Tanto as estrelas das galáxias quanto uma folha de
árvore são feitas de átomos. Os átomos são basicamente constituídos de prótons
(partículas com carga elétrica positiva) e de nêutrons (sem carga elétrica) –
que formam o núcleo atômico – e de elétrons (partículas com carga elétrica
negativa). Estes se mantêm presos ao núcleo atômico devido à atração elétrica
entre suas cargas e as dos prótons (também chamada de atração coulombiana).
Simplicidade estelar
No núcleo de uma estrela, a temperatura
atinge dezenas de milhões de graus Celsius. Nessa condição extrema, os núcleos
de hidrogênio se movem com tanta velocidade – com altíssimas energias – que
conseguem vencer a repulsão elétrica que existe quando duas cargas com o mesmo
sinal se aproximam.
Quando eles se aproximam a uma
distância da ordem de 10-15 metros, outra força fundamental da natureza
entra em ação: a força nuclear forte. Essa força é a mais intensa que existe no
universo (cerca de 100 vezes mais intensa que a força elétrica), porém o seu
alcance é muito limitado (10-15 m).
Quando quatro átomos de hidrogênio
colidem, ocorre a formação de um núcleo do átomo de hélio. Nesse processo, dois
prótons (que são núcleos dos átomos de hidrogênio) se transformam em dois
nêutrons e são emitidas duas partículas com a mesma massa do elétron, mas com
carga elétrica positiva, às quais se denomina pósitron.
Uma estrela como o Sol libera uma energia equivalente a mais
de 10 milhões de vezes a energia derivada da produção anual de petróleo da
Terra
O núcleo do átomo de hélio e as
partículas produzidas nesse processo têm massa menor do que a dos quatro
prótons de hidrogênio iniciais. A diferença de massa é convertida em energia,
como previsto pela equação de Einstein E=mc2, na qual m é a
diferença de massa e c a velocidade da luz. Como c tem
um valor muito grande, uma pequena quantidade de massa equivale a uma enorme
quantidade de energia.
Uma estrela como o Sol transforma, a
cada minuto, algo em torno de 36 bilhões de toneladas de hidrogênio em hélio,
liberando uma energia equivalente à queima de 8×1020 (oito seguido por 20
zeros) litros de gasolina por minuto, ou mais de 10 milhões de vezes a energia
derivada da produção anual de petróleo da Terra.
Esse processo continua ocorrendo em uma
estrela durante bilhões de anos. O Sol, por exemplo, existe há mais de 5
bilhões de anos e continuará brilhando ainda por outros 5 bilhões. A
transformação de núcleos atômicos também acontece em estrelas com mais massa
que o Sol e forma átomos mais complexos, como o carbono, o oxigênio, entre
outros.
Complexidade ao nosso redor
As condições em que vivemos no nosso
planeta permitem que os átomos que estão ao nosso redor se combinem e formem
estruturas mais complexas e estáveis, que chamamos de moléculas. Nesse caso,
quem domina é a força de interação entre os elétrons, que possibilita a
combinação de diferentes tipos de átomos.
Por exemplo: a molécula da água, que é
composta por dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio (H2O), tem uma estrutura
molecular muito simples que lembra um ‘V’ aberto, com o átomo de oxigênio no
seu vértice e os átomos de hidrogênio nas pontas. A ligação química que permite
essa forma é chamada ponte de hidrogênio.
Os átomos que compõem as estrelas das galáxias, em
sua maior parte, são os mais simples da natureza: o hidrogênio e o hélio. O
hidrogênio tem apenas um próton em seu núcleo e o hélio, dois prótons e dois
nêutrons. Devido às altas temperaturas em que eles se encontram no interior das
estrelas, esses átomos estão completamente ionizados, ou seja, seus elétrons
não estão mais ligados ao núcleo atômico e a matéria permanece em um estado
particular que chamamos de plasma.
Tanto o hidrogênio como o oxigênio são átomos
pequenos, que tornam a molécula da água leve. Se não fosse esse tipo de
ligação, a água seria um gás em temperatura ambiente e ficaria líquida apenas
em baixas temperaturas.
Combinações
não tão simples entre átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio etc. permitem formar moléculas tão
complexas como as de DNA (ácido desoxirribonucleico), que são a base da vida.
Em certas condições, essas moléculas são capazes de se copiar e, assim,
permitir o surgimento de estruturas ‘vivas’ tão complexas como nós.
Seja
nas estrelas – tanto as próximas quanto as das distantes galáxias –, seja na
Terra, as leis que regem a ‘química nuclear’ são as mesmas. A matéria, em suas
diferentes formas, é constituída do mesmo modo em todos os lugares do universo.
Apenas as transformações e combinações dos átomos são diferentes. E são as
condições locais que permitem o surgimento dessa grande variedade de
estruturas, desde microscópicas formas de vida até gigantescas estrelas.
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